Pelo prazer de dirigir


Por Rodrigo Cozzato

Lembro-me perfeitamente e com muito carinho dos sábados e domingos que meu pai me levava para passear de carro na rodovia dos Imigrantes — o passeio era desculpa; ele queria mesmo era pegar uma estrada pra botar o “Corcelzão” na pista.

Nessa época, morávamos no Jabaquara, perto da estação final do metrô. Meu pai costumava pegar a Imigrantes e ir até o retorno do Demarchi, à época, famoso bairro gastronômico de São Bernardo do Campo. Na volta, sempre parávamos numa barraca na beira da estrada para tomar caldo de cana.

Época boa que não volta mais. Era muito bom sair tranquilamente, sem pressa, com os vidros abertos, vento no rosto, ouvindo o velho Motoradio, só pelo prazer de dirigir. Quantos sábados e domingos foram assim.

Outra coisa bastante interessante que me recordo agora é que meu pai almoçava em casa quase todos os dias. Ele trabalhava na Praça da Árvore, e mesmo assim, com o trânsito da época, dava tempo de chegar em casa, almoçar, tirar um cochilo e voltar.

Do que relatei acima, o que dá pra comparar com os dias de hoje? Nada, claro. Não conheço ninguém que saia pela estrada apenas para passear, e por dois motivos óbvios: o alto preço do combustível e o cerceamento do direito de ir e vir (leia-se “pedágio”). Muito menos quem consiga driblar os congestionamentos, comuns em qualquer hora do dia, para ter uma bela refeição caseira.

Para falar a verdade, tenho raríssimos amigos que dirigem por prazer, mas sim por obrigação. Acho até que me incluo nesse grupo. Salvo quando vou para casa da minha mãe, no interior do estado. Lá, sim, dá pra dirigir de boa, tanto na cidade quanto nas estradas, com os vidros abertos, vento no rosto, música boa no rádio, etc.

Por aqui, infelizmente, nem sábado nem domingo dá pra dirigir sem se irritar. Mesmo num feriado como o de ontem, os poucos motoristas que trafegam pelas ruas de São Paulo não conseguem desligar o modo “estressado”, e insistem em ziguezaguear, buzinar, xingar, e por aí vai.

De nada adiantam as campanhas por um trânsito mais gentil, propagandas e reportagens mostrando as mortes no trânsito nem multas. É cada vez mais notório que os tempos modernos transformaram os cidadãos das grandes cidades em pessoas estressadas por natureza. Basta entrar no carro pro cara pensar que a rua e a faixa são só dele, ninguém tem o direito de mudar de faixa nem converter ou cruzar a rua, ninguém pode estacionar ou andar na mesma velocidade que ele. Aquele espaço é do motorista fominha e ninguém põe a mão.

E com atitudes como essas, todos vão se tornando pessoas estressadas, à beira de um ataque de nervos, egocêntricas e egoístas, no limite para cometer um assassinato no trânsito. Falta educação, paciência, bom-senso e, acima de tudo, respeito. Respeito ao próximo e respeito a si mesmo.

Mas falta mesmo prazer ao dirigir. Que nunca façam para o seu filho aquilo que você faz para os outros no trânsito.

2 Respostas to “Pelo prazer de dirigir”

  1. Vanderlei Campiotti Says:

    Com este artigo fiz uma viagem ao passado. Lembrei-me do tempo em que as pessoas tinham pouco estudo e muita educação. Hoje temos uma inversão de valores e há muitos condutores formados e pós-graduados, porém, com muito pouca educação. Felizmente, sigo aquilo que meu pai ensinou com seu exemplo ao volante e valorizo a boa educação.
    Parabéns!!!

  2. Fabio Ferreira Says:

    Pois é senhores… me senti nos anos 80, também passei finais de semana assim com meu Pai e Minha mae, o Sr João colocava sua Brasilia 1975 Azul Clara, era uma febre… na é poca dos Mavericks Opalas… bons tempos, e iamos tranquilos de Guarulhos até Bertioga no litoral, ou visitar parentes em Mogi das Cruzes e ou em Santo Amaro… na ´´epoca predios no bairro acho que só o Centro Empresarial, enfim, trafego todos os dias da Rod BR116 Regis, de Itapecerica da Serra a Alphaville, todos os dia pelo menos ha uns 8 anos, e ja vi muitas barbaridades, cometidas até por quem deveria fiscalizar os infratores.
    hoje depois de se contruirem o Rodoanel, que de nada adiantou pois seu projeto é de 1992, voce vai a 30 Km da Raposo até Alphaville, e etc.
    paga pedágio que funciona atravez de LIMINARES… LAMENTÁVEL enfim.
    agora temos a inspeção veicular, embora eu ache a idéia boa, vejo que o intuito é só ARRECADAR DINHEIRO, uma vez que demais municipios são isentos… ehhh acho que vou mudar minha placa para Itapecerica da serra…. dar uma de esperto como tantos outros o fazem….
    de modo que vivemos numa terra de ninguem, onde quem mata dirigindo ou até mesmo baleando não vai p/ cadeia, mais se vc é flagrado sei lá com seu licenciamento vencido por um dia por exemplo…. os caras só faltam te matar…..
    É no minimo contraditório como podemos ver casos de juizes de promotores cometerem barbaridades até matando no transito e nada foi feito, pois é meus caros amigos, vamos nos vestir em armaduras e voltarmos a idade média!!!
    TENHO PENA DE MEU FILHO QUE TEM SÓ 3 ANOS…. ONDE ELE VAI VIVER. QUE DEUS ABENÇOE E PROTEJA TODOS NÓS!!!!!

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